10 mulheres na reforma
Margarida de Navarra (1492–1549): foi uma princesa francesa da dinastia Valois. Tornou-se rainha da França quando seu marido, Henrique IV, foi coroado, em 1589. Graças aos privilégios como monarca, teve acesso aos estudos, era inteligente, criativa, executora, sua intelectualidade chamava atenção e foi nesse contexto que teve contato com os escritos de Lutero.
Margarida fez sua própria abordagem de três frentes para a fé e salvação: o homem deve reconhecer e confessar que ele é um pecador quando ele compara-se à imensidão e à santidade do amor de Deus; ele é justo quando ele sabe que o único caminho para a graça divina da salvação é a sua fé absoluta e total no amor de Deus através de seu filho Jesus; e ele se arrepende quando ele está humildemente diante de Deus, ciente de que ele não tem nada a oferecer a Deus, que lhe deu tudo, mas a quem ofende diariamente.
As novas ideias e doutrinas causaram um furacão dentro dela, que começou a ver os erros da Igreja, mas não queria causar uma racha com o catolicismo e nem ser excomungada, que era o pânico da época.
Continuando seus estudos e acreditando que a Bíblia (e os escritos de Lutero) deveriam ser escritos de maneira compreensível para todos, Margarida usou os recursos disponíveis para aproximar as pessoas do Evangelho escrevendo contos com valores morais cristãos. Sua produção teológica foi completamente diferente de todo o resto, dialogando diretamente com a sociedade e seu contexto cultural, num estilo de leitura fácil e acessível a todos, mas que não deixava de falar de temas sérios, como os abusos da Igreja.
Margarida também usou sua influência para conseguir o perdão da pena de Calvino, condenado pelo governo da França. Se não fosse por ela, provavelmente João Calvino não seria um nome tão conhecido quanto é.
Argula von Grumbach (1492-1554): é sinônimo de coragem. Nascida em berço nobre, aos dez anos ganhou uma Bíblia do pai e iniciou os estudos. É considerada a primeira escritora protestante, escreveu cartas e panfletos defendendo os ideais da Reforma. Mulher nobre da Baviera, escreveu panfletos promovendo a liberdade acadêmica e princípios reformatórios. Se correspondia com Lutero e com outros reformadores e disse em uma de suas cartas: “Não escrevo somente sobre assuntos de mulheres, mas sobre a Palavra de Deus, como servidora da igreja cristã, diante da qual as portas do inferno desvanecem”. Seu manifesto mais conhecido foi refutando professores universitários que eram contra a Reforma, e ainda os desafiou a argumentarem teologicamente com ela. Não recebeu nenhuma resposta, mas o marido foi demitido. Esse morreu católico, o que dificultava um pouco a dinâmica familiar de Argula.
Marie Dentière (1495–1561): a reformadora que estudou junto com Calvino, em Genebra. Dedicou-se aos estudos da sagrada escritura e traduziu parte dos textos bíblicos; escreveu sobre as mulheres testemunhas da ressurreição: “Se Deus deu então a graça a algumas boas mulheres, revelando-lhes, pelas Santas Escrituras, algo santo e bom, não ousariam elas escrever, falar e declará-lo uma à outra? Ah! Seria uma audácia pretender impedi-las de fazê-lo. Quanto a nós, seria muita tolice esconder o talento que Deus nos deu”. Também atuou em Genebra, como pregadora e escritora. Chegou a remeter carta à rainha Marguerite, de Navarra, pedindo que ela intercedesse junto ao irmão, o rei da França, para eliminar a divisão entre homens e mulheres.
"Embora não seja permitido a nós (mulheres) pregar em assembléias públicas e nas igrejas, não obstante não nos é proibido escrever e admoestar uma a outra com todo o amor", escreveu à rainha. Destacou-se tanto, que em 2002 seu nome foi gravado no Memorial da Reforma de Genebra, ao lado de grandes nomes. Saiu do convento quando decidiu aprofundar sua fé somente em Jesus, depois de encontrar e se dedicar ao estudo de escritos de Lutero que encontrou na biblioteca. Sua bandeira era a defesa do ministério de pregação pública para mulheres protestantes, e em 1539 imprimiu um livro com dois textos chamados “Uma Epístola Útil” e “Em defesa das mulheres”, onde defendia a participação mais ativa de mulheres na igreja e na sociedade, e o mesmo acesso aos estudos que os homens. A obra se tornou a primeira a ser censurada pelo protestantismo, e Maria sofreu perseguição não só entre católicos, mas também entre reformadores genebrianos, que impediram a publicação de qualquer texto escrito por mulher na cidade até o fim do século 1. A reformadora que estudou junto com Calvino, em Genebra. Dedicou-se aos estudos da sagrada escritura e traduziu parte dos textos bíblicos; escreveu sobre as mulheres testemunhas da ressurreição: “Se Deus deu então a graça a algumas boas mulheres, revelando-lhes, pelas Santas Escrituras, algo santo e bom, não ousariam elas escrever, falar e declará-lo uma à outra? Ah! Seria uma audácia pretender impedi-las de fazê-lo. Quanto a nós, seria muita tolice esconder o talento que Deus nos deu”
Catharina Krapp Melanchthon (1497-1557): A família Krapp era uma das famílias principais em Wittenberg; seu pai ocupava o cargo de prefeito desde 1494. Com vinte e três anos casou-se com o reconhecido professor da Universidade de Wittenberg, Filipe Melanchthon, onde resultou no nascimento de quatro crianças, (duas meninas e dois meninos). Ela era reconhecida por sua generosidade com as pessoas e influenciou o agir e refletir de Melanchthon. O casal esteve casado por trinta e sete anos. Sua casa era também escola, um espaço ecumênico e internacional de discussões de teologia e educação.
Katharina Schütz-Zell (1497-1562): foi pregadora na igreja de Strassburg, onde foi defensora do direito do casamento dos clérigos e promoveu ativamente pessoas leigas como pregadores do Evangelho. Foi casada com um sacerdote que foi excomungado. O sacerdote Matheus Zell, que era 20 anos mais velho que ela. Katharina e Matheus se casaram em dezembro de 1525, em um dos primeiros casamentos protestantes da história. Ela escreveu ao bispo local defendendo o casamento de clérigos. Era uma mulher culta, leitora de Lutero. "Catarina Zell também escrevia muito, e em suas cartas incentivava as mulheres dos fugitivos (defensores da Reforma) a permanecerem firmes na fé". Escreveu um comentário sobre os Salmos 51 e 130, sobre a oração dominical e o Credo. Acolheu flagelados, pessoas perseguidas, visitou doentes, realizou pregações, inclusive na morte do marido.
Katharina von Bora (1499-1552): talvez seja uma das mais conhecidas. Foi esposa do reformador Martin Lutero e seu papel foi muito além de ser apenas esposa e mãe abnegada. Ela foi a administradora da casa, no mosteiro negro de Wittenberg, onde o reformador recebia até 40 pessoas por dia, na maioria estudantes ou adeptos do movimento, e ela participava ativamente das discussões e conversações sobre a reforma, que aconteciam em torno da mesa, nas refeições. A mulher de Lutero, Catarina von Bora (1499-1550), conhecia os segredos da medicina caseira. Ela era uma ótima administradora dos bens familiares, sabia ler e escrever, o que era uma exceção para a condição de mulheres da época. Fugiu do convento, aos 26 anos, se encontrou com problemas para casar, afinal, que família iria querer uma ex-freira insubmissa e fujona como esposa de seu filho? E assim, ela foi conversar com seu pastor, o tal Martinho Lutero, com quem acabou casando.
Elisabeth von Meseritz Cruciger (1500-1535): A polonesa foi a primeira poetisa e compositora do protestantismo. Em 1522, ela deixou o Convento e foi recebida na casa de João Bugenhagen, em Wittenberg, onde conheceu o aluno e colaborador de Lutero, Gaspar Cruciger, com quem se casou, em 1524, marcando oficialmente o primeiro casamento protestante (uma ex-freira e um professor/pastor). Ela também esteve envolvida nas discussões teológicas nas “Conversas à Mesa” com Lutero e Katharina von Bora. Em 1524, Elisabeth escreveu o primeiro hino protestante que se encontra no hinário oficial da Igreja Evangélica da Alemanha n. 67, sendo cantado no último domingo de Epifania.O hino composto por Elisabeth demonstra também conhecimento da Bíblia, o que era muito importante no movimento da Reforma.Por exemplo, ela chama Cristo de estrela da manhã. Isso faz referência ao texto bíblico de Apocalipse 22.6.A mensagem deste hino afirma que a fé crista não é apenas um ato de compreensão intelectual, mas um movimento do coração, voltado não para o céu distante mas para uma espiritualidade engajada na vida concreta
Elisabeth von Rochlitz (1502-1570): Foi uma princesa de Hessen e, pelo casamento, hereditária princesa da Saxônia.Ela teve contato pela primeira vez com a reforma em 1527 em sua corte parental em Brandeburgo, assim, aceitou abertamente os ensinamentos de Martinho Lutero .Desde o início, Elisabeth buscou vigorosamente a Reforma em seu campo e foi, por assim dizer, uma reformadora. Seu pai reagiu com violência, temendo que sua mãe se convertesse ao "protestantismo", e removeu os reformadores de Wittenberg. Esse evento pode muito bem ter impressionado profundamente a princesa de dezessete anos e reforçado sua simpatia pela nova fé. Ela exerceu papel importante contra a oposição de seu sogro, Duque George, na introdução da Reforma Protestante na Saxônia, e empenhou-se na nomeação de clérigos protestantes em seu território. Os mosteiros permaneceram intocados. Em 1538 ela ingressou na Liga Esmalcalda, procurando por todos os meios impedir a guerra.
Wibrandis Rosenblatt (1504-1564): Viveu em um período de grande turbulência em Basel, Strassburg e Cambridge. No curso de sua vida ela se casou quatro vezes, dando à luz a onze crianças. Três importantes reformadores (Johannes Oekolampad, Wolfgang Capito e Martin Bucer) compartilharam sua vida privada e espiritual com ela. Mesmo em condições difíceis, ela manteve a hospitalidade, acolhendo parentes órfãos e refugiados religiosos, e também se correspondeu com esposas de muitos reformadores.
Elisabeth von Brandenburg (1510-1558): Elisabeth foi uma mulher notável da Idade Média, e não somente como duquesa regente e apoiadora do movimento da reforma, mas também como escritora e estudiosa leiga de teologia. Em 1538, Elisabeth converteu-se ao luteranismo. Após a morte do marido, ela se tornou a regente do reino de Calenberg-Göttingen, até o filho Erich II alcançar a maioridade. Ela governou durante cinco anos e, nesse período, introduziu a Reforma Protestante em seu território.
De que maneira se deu a participação das mulheres no processo da Reforma?
As mulheres escutaram, aprenderam, fizeram teologia, falaram, anunciaram, pregaram e correram riscos devido ao envolvimento com o movimento da Reforma. Muitas eram monjas, que tinham tido acesso a estudos e leituras; deixaram a vida do convento para seguir a suas novas convicções teológicas e eclesiológicas. Muitas vezes temos noção limitada da atuação das mulheres na Reforma, infelizmente falta muito a descobrir.
A Reforma não foi um ato isolado de um personagem, embora há de se reconhecer o crucial papel do reformador, Lutero. A Reforma foi um movimento, e como tal, construído a muitas mãos. É preciso lembrar que Lutero teve o engajamento de príncipes e de pessoas que o apoiavam financeiramente, ou ainda, abrigaram-no em suas casas ou protegeram-no em tempos de perseguição. Muitos teólogos e teólogas discutiam os escritos de Lutero, desenvolviam seus próprios pensamentos e difundiam assim o espírito da Reforma. Há que se pensar a Reforma em seu contexto histórico, social e político, que permitiu que as ideias de um monge fossem disseminadas, discutidas e desenvolvidas.
O movimento da reforma inspirou e motivou o mundo das igrejas protestantes em geral.
Talvez seja importante pensar em Ursula, esposa de Conrado Cotta, pois em um momento de muito desânimo de Lutero, foi ela juntamente com seu marido que o receberam como filho e passou a viver ali em sua casa de forma mais tranquila e pode se dedicar aos seus estudos. Imaginemos se Deus não tivesse preparado esse caminho e Lutero desistido de seus estudos (ler trecho do livro história da Igreja volume 3, Andrew Miller, editora DLC/ páginas 16 e 17).
Com Amor.
MiriamOmetto
FRAUEN und Reformation. Elisabeth Cruciger. Disponível em: <http://frauen-und-refor- mation.de/?s=bio&id=17>. Acesso em: 07 ago. 2017.
IECLB – Portal Luteranos. Campanha Em comunhão com as viDas das mulheres. História de vida da Irmã Wera Franke. Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/conteu- do_organizacao/campanha-em-comunhao-com-as-vidas-das-mulheres/irma-wera- franke>. Acesso em: 08 ago. 2017.
IECLB – Portal Luteranos. Mulheres reformadoras. Disponível em: <http://www.lutera- nos.com.br/conteudo/mulheres-reformadoras>. Acesso em: 07 ago. 2017.