“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome; venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque Teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém” (o evangelho segundo Mateus, cap. 6, v. 9-13).
Você pode ter aprendido, decorado esse texto, antes mesmo de ter entregue sua vida ao Senhor Jesus. Afinal, quando Ele ensinou os Seus discípulos a orar, foram estas as exatas palavras que Ele ensinou a orar; então deve valer a pena sabê-las de cor, não é? São apenas 5 versículos.
Só que saber as palavras e repeti-las não adianta. Seria como ensinar o seu papagaio a ficar “orando”, ou gravar e deixar a oração tocando o tempo todo. O mesmo que ensinou essa oração, essas exatas palavras, também ensinou: não faça uso de repetições vazias (v. 7).
As palavras ensinadas podem ser faladas — as palavras ensinadas por Jesus podem ser faladas por nós —, desde que não sejam vazias. E como as palavras podem ter tutano, e não serem ocas? Como as palavras adquirem corpo e poder, para não serem vazias? Deus escuta o coração, a boca é apenas a expressão dele para Deus. Então, as palavras devem ser guias, guias que regem o nosso coração, e a resposta dele para Deus. Se parece confuso, não se preocupe, isso logo vai ficar mais claro.
Quando palavra e coração estão juntos diante de Deus, como um rei que rege o reino, ou como o maestro que, com harmonia, faz a regência dos instrumentos, há ação honrosa de Deus pelos meios, pelos instrumentos, que se deixam ser usados tranquilamente pelos Seus dedos.
Por isso, queremos compreender com mais exatidão a oração ensinada pelo Senhor aos Seus discípulos, a oração conhecida como “Pai nosso”. Quer você ore essas palavras, quer não, estes pontos de aprendizagem (são 7) nos farão lembrar de ensinos válidos para todas as orações.
1: Não se nasce falando com Deus
Seus discípulos, isto é, àqueles que já seguiam Jesus Cristo, pediram que o Mestre lhes ensinasse a orar (conforme vemos na passagem em Lucas 11:1). E Jesus lhes ensinou esta oração. A oração não é um dom inato, ela é aprendida. Uma criança, ao nascer, não tem a capacidade de se manter e nem de dizer o que quer, mas sua mãe e seu pai sabem do que ela precisa e, por misericórdia, entendem suas necessidades, suas expressões, seu choro, e lhes atende. Quando a criança cresce, seus pais podem ouvir o que vai no coração com as palavras que a criança vai aprendendo, com a sinceridade que a criança vai aprendendo, com os motivos e a forma de se comunicar em casa que a criança aprende a desenvolver e adquire e expressa. Uma satisfação para os pais que a criança sai do berço e se desenvolve, apesar das dificuldades de uma vida que sai da passividade total e adquire dinamismo.
Do mesmo modo o Pai celestial, assim que nascemos de novo, pelo Espírito e pela Palavra, nos ensina, nos ouve, e nos atende até no que não sabemos pedir. Porém, se estamos vivos de fato, iremos crescer, e aí saberemos mais, teremos mais a dar, não apenas grunhidos, e quão melhor é, e quanto o Pai espera, que assim cresçamos e nos dirijamos a Ele não subdesenvolvidos e desnutridos, mas com a estatura e força que adquirimos pela graça no exercício da fé.
Ainda que o Espírito Santo nos ajude em nossas fraquezas e interceda até com gemidos inexprimíveis (conforme Romanos 8:26), essa não é, de modo nenhum, a regra. A regra é que a nossa conversa com Deus — ainda que muito elevada — é, na maior parte das vezes, legível ao nosso intelecto, inteligível; conforme o entendimento que Ele nos deu.
2: O Pai nosso é uma oração solitária! Se queremos seguir esta oração, devemos segui-la corretamente — a sós!
Mateus capítulo 6 v. 6: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”.
3: Pai “nosso”? Mas Jesus não disse que esta é uma oração que se faz sozinha, sozinho?
Sim. É incrível, não? Estamos sozinhos com Deus Pai, mas devemos reconhecer que o meu Pai é o seu Pai, é o Pai do seu vizinho crente, do seu irmão, primo, tio, que é salvo mas que se afastou dos caminhos do Senhor, é o Pai de cada crente na congregação local, de cada crente representado no único pão que partimos semanalmente na ceia do Senhor.
Pai nosso, Deus e Pai daqueles com quem eu devia estar congregado em amor, mas, por divisões humanas não estou, e até por falta de amor de minha parte, não estou sempre nas reuniões em que os filhos do meu Pai estão reunidos em torno do sangue comum, o sangue do Senhor Jesus Cristo, que nos salvou e nos deu um coração de carne em vez do nosso coração natural de pedra; ao orar o Pai nosso, cada um reconhece que está orando NOSSO Pai, e não MEU Pai, e a realidade de comunhão e amor que isso manifesta ao nosso coração e de nosso coração para Deus Pai.
4:Pedir por Deus e Sua vontade — em primeiro lugar.
Não há outra ordem. Primeiro, Deus. Já se diz ao final do capítulo: “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). A oração modelo, ou oração do Pai nosso, segue esse princípio, pois a primeira petição nela é a que o reino de Deus venha e se concretize plenamente, que a vontade de Deus seja feita na terra como é feita no céu, e que o nome dEle seja sagrado no coração dos homens, honrado e glorificado no mundo todo.
Novamente: se nos propomos a orar as exatas palavras ensinadas por Jesus, são estas as palavras e podemos usá-las, desde que não sejam vãs repetições, mas que deixemos elas regerem de fato o nosso coração e nossa vontade de acordo com o desejo de Deus, de fazer Sua vontade e ser glorificado neste mundo perdido onde busca pecadores para serem salvos e se tornarem Seus adoradores. Deixe que “a vontade de Deus ser realizada” seja a sua própria maior vontade, oh glória!
5: Pedir por nossas necessidades.
“Mas Deus não sabe do que preciso antes de eu dizer, até mesmo antes de eu pensar?” Sabe, você sabe que Ele sabe. E você sabe também que Ele quer ouvir.
A oração por nós é pelas nossas necessidades (comida, livramento de todo mal); não há nenhum espaço, nesta oração, para pedirmos por nossas vontades independentes, nossos caprichos pessoais, mas somente por aquilo que é vontade do Senhor Deus e aquilo que é necessidade que temos de verdade.
6: O perdão.
Na oração ao nosso Pai, o perdão que recebemos dEle é condicionado a perdoarmos àqueles que nos devem alguma coisa; perdoarmos todos os que são nossos devedores, seja de dinheiro ou bens materiais ou de qualquer outra coisa que as pessoas nos devem. Pois diz: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12). E: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós” (Mateus 6:14). E o contrário é verdadeiro, conforme o versículo 15, que deixo para você ler depois se desejar.
Ah, ao orarmos de verdade, seja esta oração, seja apenas seguindo suas instruções, o quanto podemos ser moldados pela vontade de Deus para fazer a vontade dEle, e para glória dEle, perdoando completamente de todo o coração a quem nos deve.
Por último:
7: Lembra do Pai NOSSO? Pois é, o plural vai até o fim, “livra-nos do mal”... você lembra até o fim, e você ora de todo o seu entendimento e de todo o seu coração, por aqueles com quem você se identifica na oração (seus irmãos em Cristo)?
E o que dizer de cada semana, e de cada dia seu, na prática: os filhos do nosso Pai ocupam lugar de importância, ou você dá chance de algum compromisso sem eles, talvez até com laços do mundo, ocupar o lugar que seria devido a Cristo e aos que são de Cristo? Os filhos do Pai são só um fardo que você se vê obrigado a suportar, no mínimo de tempo que puder? Se esse é um pensamento nosso, corremos o risco de não sermos um cheiro agradável a Deus, mas um cheiro de vontade própria e não submissa ao Pai nosso, que está nos céus e têm pensamentos mais elevados que os nossos, a Quem devemos nos conformar. E essa oração, orada com entendimento, nos leva nesse caminho de conformação celestial.